Estilos.

 

 

GRAFFITI

 

Muito se fala, pouco se conhece e o quê se faz...?

Graffiti - para que você tenha uma idéia nítida de como identificar um graffiti, basta entender que toda ou qualquer inscrição feita na parede, é um graffiti.

Conhecido pelo nome original “grafito”, o graffiti pode ser considerado a primeira forma de escrita do mundo. Durante a década de 60, o graffiti assume nas ruas da França e Itália, um formato um tanto diferenciado pelo qual estamos acostumados a identificá-lo, sem a predominância multicolorida, com letras e desenhos abstratos e tridimensionais, que nos permitiria admirá-los, sendo visto através de frases de resistência à um sistema opressor (bem parecido com àquelas frases de “fora FHC” ou a famosa “Diretas Já!” que predominam ainda hoje nos muros de nossa cidade). Já na década 70, o graffiti reaparece, só que desta vez, nos Estados Unidos. Assumindo um estilo de protesto diferente dos países europeus, ele adquire um formato bem próximo do que viria a ser o seu original nos anos seguintes: com frases e desenhos multicoloridos nos vagões de metrô. Então, é neste período que a“graffiti spray can art” passa a assumir o seu formato definitivo, sendo vista de maneira frontal, e direcionando o seu nome o quanto arte e desenvolvendo estilos, sendo praticada agora pelos adolescentes negros e hispânicos dos bairros nova-iorquinos. Inspirados por nomes como Vaungh Bodê (cartunista muito popular na época, que retratava em seus quadrinhos um mundo de magia e fantasia, num ato de protesto à guerra do Vietnã), estes jovens, numa busca, mesmo que inconsciente, de sua afirmação social, procuravam dar asas aos seus estilos nos vagões de metrô, paredes de linhas férreas, prédios abandonados, muros e becos da cidade de Nova Iorque:

DANÇA HIP-HOP

Muito se fala, pouco se conhece e o quê se faz...?

 

Como esta coluna é destinada àqueles que independente de credo, cor, raça, sexo e estado social, viram no hip-hop uma forma de contestar as injustiças de um sistema que quer-nos segregar de maneira sutil e fazer com que nos sintamos superiores uns aos outros – simplesmente pela tonalidade mais clara de pele, ou pela textura mais lisa do cabelo; pela delicadeza dos traços faciais ou pela clareza dos olhos – resolvi expor resumidamente, mas de modo facilitado, como são definidos os elementos da cultura hip-hop, a fim de que as dúvidas possam diminuir, e talvez, quem sabe, venham ser substituídas pelo compromisso verdadeiro de fazer dela algo essencial para suas vidas...

Dança

Up Rocking – criado entre 1967 e 1969 pelos dançarinosRubber Band e Apache (idealizadores da crew Dynasty Rockers), no bairro do Brooklyn (NY). Este estilo consistia na simulação de uma luta. Extinto no inicio dos anos 70, alguns de seus passos reaparecem junto as coreografias dos b. boys do bairro do Bronx (NY). Cabe lembrar que o dançarino de up rocking era denominado de rocker.

Locking – criado por Don Campbellock no final dos anos 60, em Los Angeles. Pode-se dizer que este estilo fora inventado acidentalmente pelo fato de Campbellock nunca ter conseguido interpretar corretamente os passos do funk chicken (estilo popularizado por James Brown em suas apresentações). É importante lembrar que o dançarino de locking é denominado de locker.

Popping – criado por Boogaloo Sam, natural de Fresno (Califórnia). Num sincronismo de braços e pernas o popping estiliza o pipocar (pipocas estalando) de movimentos.Boogaloo Sam também fora o criador do estilo boogaloo style em meados de 70 e o passo denominado de backslide, usurpado por Michael Jackson e popularizado com o nome de moonwalk. Vale ressaltar que o dançarino de popping é identificado pelo nome popper.

Breaking (B. Boying ou B. Girling ) – ao contrário do nome break dance, popularizado erroneamente pela mídia americana, este estilo não apresenta o nome original do seu criador. Contudo ele fora adotado e desenvolvido pelos garotos do bairro do Bronx (NY) entre 1975 e 1976 nas block parties (festas de rua) ao som dos rítimos latinos, soul, funk e jazz. O fato curioso sobre o nascimento deste estilo, é que ele fora desenvolvido pelos adolescentes da época, que por não conseguirem imitar corretamente seus irmãos mais velhos e seus pais, que dançavam embalados pelo soul, acidentalmente acabaram criando um estilo mais radical, incorporando inclusive na sua
coreografia, movimentos que iam desde mímicas e acrobacias olímpicas, até a estilização de capoeira e catares de lutas marciais. O termo break foi adicionado a sua identificação, devido a predileção destes jovens pelo momento instrumental oferecido pelos discos (break beat), aonde faziam das pistas das festas o seu palco principal. Ficaram então conhecidos como break boys ou b. boys. Já termo atribuído às mulheres é b. girl. Dentre tantas gangues de breakin’ pode-se destacar a Rock Steady Crew com uma das mais populares em todo o mundo.

 

No Brasil, estes estilos de dança chegaram em 1983 através da mídia e por isso, todos vieram centrifugados no formato break dance. Não sabíamos o que era locking, popping ou breaking. Então, todos os dançarinos eram identificados de um modo sinônimo pelos nomes breakers, dançarinos de break ou b. boys. De alguns anos para cá, pessoas como o empresário paulistano do entretenimento para b. boys,Rooney Yo Yo, e alguns dançarinos (como é o caso da crew UBI, com representações no Rio), estão procurando dar aos adeptos da dança urbana o verdadeiro conceito de cada estilo. Em Campo Grande, há 10 anos, a organização CJ Hip-hop – com sua sede no centro do bairro – vem demonstrando também sua representação autêntica, reunindo todos os sábados adolescentes de ambos os sexos com o intuito de conscientizá-los através da dança.

 DJ

Muito se fala, pouco se conhece e o quê se faz...?

 

DJ (Disc Jóquei) – figura antológica do hip-hop. Foi o responsável por reunir os demais elementos para a arquitetura da cultura. Na Jamaica, não era visto como apenas um animador de festas, mas como uma divindade sacerdotal, que tinha a de missão interligar o povo à Jah (Deus), através dos estilos roots, ska e dub.
Havia um velho costume no raggae: de djs falarem sobre músicas de discos ao toca-las e interagirem com o púbico. Tal prática era compreendida pelo nome toast. Pode-se afirmar inclusive, que o dj fora o primeiro mc, antes mesmo deste elemento assumir seu formato original e individual. Devido esta ancestralidade cultural, muitos entendidos tendem a tropeçar nas suas explicações históricas quanto ao nascimento do rap, alegando ser a Jamaica o seu berço verdadeiro. Embora o dj jamaicano tenha sido a referência principal na construção do rap, cabe lembrar que o canto falado tem sua raiz fundamentada na África há milênios, e aonde quer que exista a presença africana no mundo, existe também a presença da oratória por sobre a música.No jazz, no blues e até nas pregações de um pastor afro-
americano, predomina-se a expressão do discurso por sobre as bases instrumentais. Os griots (sacerdotes religiosos africanos, contadores de histórias, que estiveram presentes em todas as partes do mundo onde se poderia identificar a escravidão), por exemplo, narravam os feitos heróicos dos negros através do canto falado. Mas, mesmo com toda referência do canto falado presente nas culturas africanas, o nascedouro do rap – entendido como cultura através deste nome – foi nas ruas do bairro do Bronx.

É importante ressaltar, que, um dos incentivadores da valorização do papel do dj e da construção da cultura hip-hop fora o dj jamaicano Kool Herc, que, através do seu equipamento ambulante, levou a tradição das festas de rua (block parties), da Jamaica para o Bronx, reunindo dançarinos e grafiteiros num mesmo espaço. Herc tornou-se também o inspirador de djs como Afrika Bambaataa e Grand “Master” Flash, e juntos, idealizaram a cultura hip-hop...

Da mesma maneira que existem estilos diferentes no rap, os djs ligados à cultura também apresentam as suas diferenças, chegando inclusive a se tornarem produtores, verdadeiros acrobatas por sobre os toca discos e exímios remixadores, fazendo com que muitos sons undergounds, se tornem aceitos nas pistas de dança.
Aqui no Rio, enquanto que o dj Cley 2, Branquynho e Claysoul – todos de Campo Grande – assumem o papel de excelentes remixadores, os djs Juan (Six), Boneco (Masta Basta), Phabyo e Bráulio (Castelo das Pedras), GL Jay (ex-Artigo 288), Magic Júlio (banda Afroreggae), Negralha (O Rappa) e Babão (Brutal Crew), mostram que as MK2 (toca-discos profissionais) , não se tornaram relíquias de museu...

                

MC(Mestre de Cerimonias, ou Controlador de Microfones)

Muito se fala, pouco se conhece e o quê se faz...?
MC (Mestre de Cerimonias ou Controlador de Microfones)- é importante ressaltar, que, o mc de nada tem a ver com a pessoa dorapper, pois, a sua existência se faz anteriormente na própria Jamaica, como já vimos na matéria anterior. A figura do mc passa portanto a tomar sua devida forma e conotação, nas ruas do bairro do Bronx, nas festas organizadas por Kool Herc, em 1975. Garotos bem ousados, improvisavam rimas e interagiam com o público através delas, obtendo repostas uníssonas e vibrantes. E é dessa forma que surge Coke La Rock , considerado o primeiro “mestre de cerimonias” da história do hip-hop americano. La Rock se tornou responsável por frases que até hoje fazem parte da “cultura gringa”:

“Rock tha house! To the beat y’all! Rock on! You don’t stop!”

A partir de então outros nomes passaram a fazer parte do universo rimático, como é o caso de Clark Kent e Lovebug Starski, um dos prediletos de Afrika Bambaata.Pode-se afirmar inclusive, que, Starski fora um dos responsáveis por popularizar a expressão “hip-hop”, antes mesmo do surgimento da “nova cultura”, através da eterna frase:

“Hip-hop till you don’t stop!”

Batalhas- tudo acontecia às mil maravilhas no “novo reino da cultura urbana”, até que um mc de nome Busy Bee, resolve esquentar o clima, alegando que as rimas improvisadas de tons festivos estavam se tornando “coisa de Marica”. Então, no inicio dos anos 80, ele passa a fazer rimas desafiadoras contra outros mcs. Tal prática, desencadeou no público um efeito ainda mais intenso que as antigas rimas. Em 1987, o rapper Kool Moe Dee, lança em seu álbum rimas em forma de batalha contra o rapper LL Cool J, enquanto que o grupo Boggie Down Productions (BDP)repetem a dose, implementando este estilo em suas músicas, em afronta ao Juice Crew, resultando em consideráveis vendas de LPs e shows abarrotados.

 

Cabe lembrar que pelo fato do hip-hop ser uma cultura criada um meio a desordem social, batalhas como estas estão presentes em todos os elementos do hip-hop, em formatações respectivas à cada atividade: no graffiti, existe a batalha de cores; no breakin’, no poppin’ e no lockin’, a batalha da dança; no dj, a batalha de scratch; e no rap, a batalha de mcs...Ao contrários dos conflitos das gangues de rua, por disputas de território, estas batalhas só servem para entreter as pessoas e testar o nível de capacidade de cada
competidor. Seja bem vindo ao jogo!

 

Rapper- você deve estar se perguntando: mc não é sinônimo de rapper? Não! Os primeiros rappers surgem por volta de 1976, através das vozes dos The Furious Five, produzidos pelo dj Grand “Master” Flash, que passam a introduzir versos completos e rimados, o quê podemos denominar de “rap (rhytm and poetry)”.

É importante destacar que o mc pode ser um rapper ou vice-versa, como também, todo e qualquer membro da cultura hip-hop, pode assumir mais de um elemento contido nela – de acordo com seu dom – porém, cada elemento possui seu valor distinto...

Beat Box- quando não se tinha à mão a presença dos toca-discos, a improvisação instrumental tomava corpo através das batidas e efeitos desenvolvidos através da boca, denominando-se beat box. Depois de sua aparição, esta modalidade se tornou um atrativo à mais em muitos palcos e álbuns de rap. Um dos nomes mais respeitados nessa técnica é o de Buffy. Integrado ao grupo Fat Boys, Buffy se torna popular sendo conhecido como “Buff, o Beat Box Humano”, chegando a ganhar, em 1993, um concurso de talentos no Radio City Music Hall.

Um bom exemplo de batalhas de mcs no Rio, são os eventos realizados pela Brutal Crew, que consegue reunir rimadores de todos os cantos do estado, chegando a receber inclusive, visitantes de outros estados. Em Campo Grande, dentre muitos representantes, destaco a presença inusitada e ativa de uma mc: Queen,assumindo a dupla personalidade mc-rapper.